Será que atletas e esportistas podem perder urina praticando seu esporte? Sim, podem. A principal diferença desse tipo de incontinência urinaria de esforço da usual é que, nesse caso, a perda de urina acontece durante a realização da atividade esportiva e não ao tossir, espirrar, por exemplo.
Perfil dos pacientes
Além disso, o perfil dessas pacientes é bem diferente do usual. São mulheres jovens, magras, sem histórico de gravidezes ou partos. Geralmente possuem rotinas bem puxadas, diversas viagens, inúmeras competições, em uso de diversos suplementos e medicações especificas e até diuréticos. Normalmente são cercadas de diversos patrocinadores e profissionais das mais diversas áreas, mas, curiosamente, não possuem um ginecologista ou uroginecologista que a acompanhe.
Mas como explicarmos tal fenômeno em pacientes tão saudáveis e com músculos pélvicos tão eficientes? A resposta parece estar na hipermobilidade e não força de ação dos ligamentos e músculos envolvidos na continência urinaria. Estudos recentes mostram que o assoalho pélvico dessas atletas desloca-se excessivamente durante o exercício, facilitando o escape de urina nesse momento. Isso explicaria por que cerca de 80% das saltadoras olímpicas perdem urina durante seus saltos.
Tratamento
O tratamento para esse perfil de pacientes ainda é um desafio “quase olímpico” para nós uroginecologistas.
Normalmente optamos pelo tratamento conservador, ficando o tratamento cirúrgico para os casos de absoluta exceção.
Nosso protocolo segue uma rotina de cerca de oito semanas com um trabalho intensivo terapêutico e educativo. Durante esse período nossa cliente tem uma abordagem multidisciplinar com médicos e fisioterapeutas. Todo o processo em busca de uma melhora na sustentação e não da força do assoalho pélvico.
O tratamento com cirurgia nesse perfil de pacientes somente é aventada em caso de falha nesse protocolo.
Devemos ter o cuidado ao programar o procedimento em períodos fora de suas competições. A técnica cirúrgica consiste nas mesmas utilizadas nas demais pacientes, obedecendo a princípios da cirurgia minimamente invasiva. Devemos também atentar para uso de medicações hospitalares e em domicilio que NÃO constem na lista das substancias proibidas pelo comitê antidoping.
Recuperação
A recuperação cirúrgica deve ser acompanhada de perto e deve seguir a uma sequencia de atividades até o retorno as competições que, em média, acontece após 60 dias do procedimento.
Apesar das peculiaridades na abordagem e no tratamento da incontinência urinaria de esforço em atletas femininas, o maior desafio, para nós especialistas, é o de conscientizarmos essas meninas na busca do seu tratamento. Vencer o próprio receio, constrangimento e realizar uma adequada avaliação por uma equipe de especialistas pode trazer resultados significativos na qualidade de vida dessas atletas.